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"Isto já não vai morrer." Querubim pôs o Barro preto de Bisalhães na rota do Património

"Isto já não vai morrer." Querubim pôs o Barro preto de Bisalhães na rota do Património

Aos 85 anos, Querubim Queirós da Rocha continua a trabalhar o barro na aldeia de Bisalhães, em Vila Real, contribuindo para manter viva, através das peças que molda e da formação que dá a outros artesãos, esta arte antiga classificada pela UNESCO. "Isto já não vai morrer", afirmou Querubim Queirós da Rocha, na sua oficina em Bisalhães, Freguesia de Mondrões, onde na manhã desta quarta-feira recebeu a Medalha de Mérito Cultura, entregue pela ministra da Cultura, Dalila Rodrigues. Uma homenagem que resulta de uma vida de trabalho dedicada à olaria negra.

O oleiro disse que nasceu no barro e que foi criado no barro. Perdeu o pai muito novo, aprendeu a arte com os irmãos e aos 10 anos já moldava peças. "Eles ainda diziam que eu estragava o barro, mas eu sozinho andei para lá, compus uma roda e comecei no meio deles e lá fui andando, andando, andando, até que comecei a fazer qualquer coisa", contou o artesão.

Querubim fez do barro um modo de vida numa aldeia onde, na sua juventude, eram muitos os que se dedicavam à olaria, salvaguardando este processo de fabrico que foi classificado pela UNESCO, em 2016, como património imaterial da humanidade. A arte esteve em risco de extinção e hoje são poucos os oleiros, mas após a classificação, têm-se dado passos na formação e já há novos artesãos a trabalhar.

Leia também a entrevista da ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, ao SAPO: "A Cultura não se pode partidarizar"

Querubim destaca o filho, que aprendeu consigo e vai conciliando esta atividade com o emprego na empresa intermunicipal Águas do Interior Norte (AdIN). Franclim Rocha, 58 anos, disse que a distinção atribuída pela UNESCO trouxe uma visibilidade ao barro negro de Bisalhães que "não tinha antigamente".

"E vamos tentar tudo para que esta arte não morra", realçou, apontando precisamente aos cursos profissionais realizados, com o apoio da junta e câmara, e aos alunos "que querem seguir, que estão a trabalhar e estão a fazer peças". O próprio disse que, depois de se reformar, quer dedicar-se a tempo inteiro à oficina do pai.

Barro negro de Bisalhães é Medalha de Mérito Cultural créditos: Ministério da Cultura

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) inscreveu a 29 de novembro de 2016 o processo de fabrico do barro preto de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente. Esta forma de olaria é considerada um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI. O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.

As peças que nascem pelas mãos dos artesãos são depois cozidas em velhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.

Veja aqui a série Os Antropolojistas, dez mini-documentários sobre as histórias e os rostos por detrás das Artes e Ofícios antigos.

Na semana passada, Dalila Rodrigues entregou nove medalhas a personalidades que se distinguiram na área da cultura, mas a de Querubim foi entregue nesta quarta-feira, na oficina, junto à roda do oleiro e rodeada de peças negras, desde as utilitárias como a assadeira, alguidar, canecas às de decoração como as bilhas de rosca ou a dos segredos.

"Quero dizer, em primeiro lugar, que esta medalha é atribuída a Querubim Rocha pelo seu mérito pessoal e individual, mas também quero dizer que esta medalha de mérito cultural tem um significado especial e visa distinguir todos os que se têm dedicado às práticas culturais, às manifestações culturais, aos mais diversos patrimónios, seja do ponto de vista da sua produção, seja do ponto de vista da sua valorização e preservação", salientou a ministra.

Barro negro de Bisalhães créditos: Ministério da Cultura

A governante disse que "é fundamental" que o Ministério da Cultura "reconheça, sem exceção", todas as manifestações culturais e todos os patrimónios. "Mas também que tome medidas de preservação e de valorização. O mestre Querubim Rocha é herdeiro de uma tradição que remonta à Idade Média", realçou Dalila Rodrigues.

O oleiro disse estar "muito feliz" com o reconhecimento do governo português.

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